sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Das ruas

De dentro de um carro passamos pelas ruas da cidade e pouco percebemos dela. Fechados, por vezes sozinhos, ou acompanhados de um moderno aparelho de som, em alta velocidade, ou nem tanto, já que graças a nossa imensa necessidade de carros as vias de transito costumam estar engarrafadas em boa parte do dia, nos apropriamos da rua, da cidade, do publico, de forma estritamente funcional. A rua fica restrita a um espaço de passagem, mais uma provação no nosso torturante dia de trabalho. A rua sem sentido vira um espaço de repulsão, um lugar de onde corremos como o diabo da cruz. Loucos para chegar e descer do carro, aceleramos, freiamos, repetidas vezes, alienados do espaço por onde vamos. A rua renegada de seus usos possíveis, colocada como um espaço de passagem, se torna mais um espaço de manifestação do profundo medo que sentimos de tudo. E com medo pedimos mais segurança, mais policiais, mais câmeras, justificamos o medo que se tem da cidade. E o publico, que é o de todos, vai se esvaziando de gente, de sentido, de significados.

O espaço privado então se afirma, segregando as pessoas e as diferenças impondo um uso ainda mais reduzido, onde os papéis já estão postos: o consumidor e a mercadoria, o trabalhador e a empresa, onde as trocas se dão apenas sobre a mediação do dinheiro. E assim nega os contatos possíveis entre as pessoas reduzindo toda essa possibilidade a uma realização do individuo enquanto consumidor.

É preciso dar um novo uso ao espaço publico, as ruas, percebe-lo, senti-lo, pois a rua só existe quando apropriada, vivida pelas pessoas, que com sua criatividade dão um outro uso, um outro significado as ruas. Só é cidadão aquele que quando se apropria do que é do cidadão, o publico, transformando este espaço. Entender a importância das ruas é saber da importancia que existem nos encontros, nas conversas com pessoas, no dialogo com as diferentes realidades que coexistem na cidade, para a formação do sujeito do mundo, que transforma seu mundo enquanto o vive. É preciso resgatar o dialogo, o habito da convivência entre os cidadãos, o sentido da rua como o lugar do encontro, da política(que existe alem das urnas), a cidade que é nossa e que, de forma alienada ou não, estamos construindo... É preciso superar o modo de vida que está posto, a sociedade de classes, da alienação, da produtividade e do consumo, o espetáculo da vida moderna...

Vamos às ruas! Vamos a pé, vamos de bicicleta, de skate, de rolimã... Mas vamos! Vamos pensando, gozando e se apropriando da nossa cidade... Vamos conhecendo o espaço, as pessoas, a vida! Vamos, e vamos conversando, graffitando, batucando, trocando, bebendo e (se)doando... Vamos mudando o mundo enquanto mudamos a nós mesmos... Vamos lendo poesias, lendo o(s) mundo(s), lendo a vida... Vamos nos encontrando... Vamos do jeito que for... Mas vamos...

Um comentário:

Anônimo disse...

vamos colando no natora de domingo!!!