A primeira vez eu me lembro como se fosse ontem. Era 1º de abril de 2004 e não é mentira o que vem a seguir. Era tipo 8 da noite. Eu já ia me encontrar com uma amiga num bar próximo à Fumec. Daí passei pela Avenida Bandeirantes e fui dar umas voltinhas na Praça JK. Na segunda volta, lá no fundo da praça, próximo à favela do Caba-Mundo, um noiado e seu comparsa enfiaram-se em minha frente, colocaram um facão de açougueiro daqueles grandes no meu peito. Fiquei estático. Levaram minha magrela comigo em estado de pasma.
Tinha notado que uns caras de um bar no fundo da favela tinham visto a cena acontecer. Não me dei por vencido e fui no bar onde tinha um povo tomando cachaça e conversando de futebol. Expliquei toda minha revolta, que eu frequentava ali, me dou bem com todo mundo, sou da roça e tal. E que iria chamar a polícia pra resolver minha tristeza.
Aí eles me perguntaram se eu conhecia alguém ali no morro. Poucos meses antes, um tal de Vladimir tinha me abordado naquele mesmo local e oferecido uns toca-fitas 'barato' pra comprar. Lembrei o nome do Vladimir e disse que conhecia ele. Aí um cara no bar ficou admirado que eu conhecia o Vladimir e disse que ia buscar a bike pra mim. Dito e feito, em poucos minutos, apareceu com o noiado que tinha colocado o facão no meu peito (com chapéu e roupa diferente, fingindo ser outra pessoa) pedindo R$30,00 na minha bike.
Peguei minha carteira e tirei toda grana que eu tinha . R$10,00 e em trinta minutos a bike tava de volta às minhas mãos, com garrafinha d'água e tudo. Saí pedalando dali numa alegria sem fim.
Agora, o segundo roubo foi um furto, dia 21 de novembro, 4º feira passada. Passei na casa do Lois pra dar os parabéns pra ele. Fiquei uns vinte minutos por lá, na hora que nós descemos, a bicicleta que eu tinha prendido com cadeado na árvore não estava lá, apenas os pedaços do tal cadeado mesmo. Desespero total, dei até queixa na polícia. BO (Boletim de Ocorrência) número 5035884.
Peguei a ocorrência, voltei pra casa, tomei banho. Fui na padaria comprar pão. Na hora que eu desci, dois irmãos que trabalham catando papel reciclado da padaria perto da minha casa me perguntaram da bicicleta. Eu disse que ela foi roubada há pouco mais de uma hora. Eles me disseram que a magrela tava lá na favela do Caba-Mundo, onde eles moram, e que um tal de 'Véio' estava vendendo a bichinha por R$60,00 (Bruno, o mais novo) ou R$70,00 (Vítor, o mais velho). Disseram também que o tal do 'Véio' tinha dormido na cadeia no dia anterior e que roubava todo dia pra manter a mulher embuchada e um filho.
Me dirigi ao banco pra buscar o dinheiro, refletindo o que fazer, liguei pra polícia dizendo que sabia onde estava minha bicicleta e que ela estava à venda. Caso ocorresse dessa maneira, eu teria que pedir aos meninos que caguetassem o camarada que me furtou e pensei que eles poderiam ser prejudicados pelo ladrão de galinha que é solto todo dia. Preferi jogar os R$60,00 na mão do Vítor.
No dia seguinte, ele não me entregou a bicicleta, mas afirmou que ela já estava na casa dele. Fiquei tranquilo, afinal, todos os dias ele fica aqui na frente de casa arrumando o ganha-pão deles. No fim de semana, não os vi. Essa semana, encontrei com o Vítor e ele me disse que a mãe dele emprestou a bike pra um noiado e que o cara vendeu minha bike no morro do papagaio.
O Vítor é esse menino dormindo dentro da caixa nessa foto que eu tirei em 2003 e dei uma cópia a ele. Lembro que ele me contou que a foto estava na sala da casa dele. Fiquei feliz naquela época. Hoje em dia, será que Vítor me faria feliz? Eu só não queria escutar mentira. Vou escrever babaca na minha testa...